Palestina e Estado de Israel: origens e conflitos, segunda parte do artigo.

31 de dezembro de 2023

Cap PM Marco Aurélio Ramos de Carvalho
Vice-Presidente da Diretoria Executiva da AMESP

Publicado originalmente na
Revista Clarinadas da Tabatinguera – edição novembro 2023

 

Em 1956 houve a crise do Canal de Suez, entre Israel e Egito, mas foi resolvida através da diplomacia, com pressão sobre Israel. Em 1967 tivemos a Guerra dos Seis Dias, onde Israel expandiu suas fronteiras e os palestinos exigiram que o seu futuro Estado estivesse em conformidade com as fronteiras existentes antes do início dessa guerra, em 4 de junho de 1967.

Em razão dessa guerra, Israel construiu colônias, ilegais segundo o Direito Internacional, nos territórios por ele ocupados, colocando na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental mais de 500 mil judeus.

Outro conflito importante árabe-israelense ocorreu em 1973, que colocou a Síria e o Egito contra Israel e ficou conhecida como a Guerra do Yom Kippur, a qual permitiu o Cairo recuperar o Sinai, o qual foi entregue totalmente por Israel em 1982; contudo, Gaza continuou sob o controle israelense.

No ano de 1987, a revolta contra a ocupação de Israel e a expulsão de milhares de palestinos deu origem à Primeira Intifada, resultando na prisão e na morte da maioria dos envolvidos. Nesta oportunidade nasceu o grupo radical HAMAS – Movimento de Resistência Islâmica cujo objetivo principal é a destruição total do Estado de Israel, conforme consta em sua Carta de Fundação.

Essa Primeira Intifada terminou em 1993 com a assinatura do Acordo de Oslo, entre o Estado de Israel e a Autoridade Nacional Palestina, que previa para esta última o comando sobre a Faixa de Gaza, da parte Ocidental de Jerusalém, sendo que a Cisjordânia teve o seu controle dividido entre os dois Estados. Como esse acordo não surtiu muito efeito, no ano de 2000 inicia-se a Segunda Intifada, logo após a visita do líder israelense à Mesquita de Al Aqsa, na parte árabe de Jerusalém, que foi vista como uma provocação pelos palestinos. Ela terminou em 2005, com a retirada de Israel da Faixa de Gaza, que passou a ser governada pelo Hamas a partir de 2007.

Os fatores determinantes dessas guerras são vários, mas, na opinião do Professor Luiz Sérgio Krausz, da USP, encontrada no seu livro “Passagens: Literatura Judaico-Alemã entre Gueto e Metrópole“, o mais significativo é que “a ausência de um Estado fez com que construíssem sua identidade com base em parâmetros mais religiosos e étnicos do que nacionais e territoriais“.

A consequência de um conflito assentado nos dois primeiros princípios citados é que ele não tem fim a não ser com o extermínio de uma das partes envolvidas, como ocorreu na Segunda Grande Guerra, onde Hitler, por desígnios de natureza étnica, tentou exterminar o povo judeu, e somente não conseguiu porque o mundo se uniu e varreu o nazismo da face da terra.

Não se pode negar que, nesse conflito entre os dois povos, também existe um interesse territorial, o qual não se resolve principalmente pela resistência do povo palestino da Faixa de Gaza, até porque, hoje, ela é dominada pelo grupo terrorista Hamas, que tomou o poder da Autoridade Palestina e tem, como seu principal objetivo, não a negociação com o Estado de Israel mas o seu extermínio.

Outro fator preponderante a dificultar e entravar as negociações de paz e determinação dos territórios é o fato da Palestina não ser um país ou um estado, apesar de que, no final de 2012, a ONU tê-la reconhecido como um “Estado observador não membro“, permitindo que participasse dos debates da Assembleia Geral; contudo não foi criado um Estado Palestino de fato por falta de apoio no Conselho de Segurança.

Alguns dos principais pontos de conflito entre os dois povos parecem irreconciliáveis:

Israel reivindica a soberania sobre Jerusalém, cidade sagrada para judeus, muçulmanos e católicos, afirmando que é a sua Capital, depois que tomou a parte Oriental em 1967, apesar de não ser reconhecido internacionalmente, e os palestinos querem que Jerusalém Oriental seja a sua Capital;

Os palestinos exigem que seu futuro Estado seja delimitado pelas fronteiras existentes antes do início da guerra dos Seis Dias, em 4 de junho de 1967, ao passo que Israel rejeita essa proposta;

Muitos indagam porque o Estado de Israel foi criado no Oriente Médio. A resposta foi dada pela própria ONU, através de seu Comitê Especial sobre a Palestina (UNSCOP), que declarou em seu relatório de setembro de 1947 que a justificativa para tal centrava-se em “argumentos baseados em fontes bíblicas e históricas“, oportunidade em que foi reconhecida a ligação histórica do povo judeu com a Palestina e estabeleceram-se as bases para as reconstituição do “LAR NACIONAL JUDAÍCO“ naquela região.

Mas a maior disputa diz respeito à capital Jerusalém, em face do seu simbolismo para palestinos e israelenses. O último conflito entre os dois povos começou no dia 7 de outubro deste ano, quando o território de Israel foi invadido por terroristas do Hamas, que mataram mais de mil civis que estavam numa festa, nos kibutzs e em várias casas na área agrícola do estado, bem como sequestraram mais de 200 pessoas, entre crianças, idosos e até bebês.

Indaga-se porque o Hamas resolveu atacar Israel da forma inusitada como foi. As justificativas apresentadas pelo Hamas são várias e vão desde os ataques de Israel contra a Faixa de Gaza, ainda que de forma esporádica, ao bloqueio aéreo, marítimo e terrestre, que restringe muito a circulação de mercadorias, serviços, suprimentos e pessoas, ao passo que Israel justifica o mesmo para evitar a entrada de armamentos para os terroristas, que são enviados pelo Irã e Hezbollah através do Líbano, e também por outros grupos terroristas.

Contudo o principal motivo diz respeito aos entendimentos diplomáticos entre Israel e o mundo árabe, principalmente com a Arábia Saudita e Emirados Árabes, o que poderia causar um desgaste ao Hamas em face do reconhecimento, por parte dos árabes, do Estado de Israel, que prometeu revidar o ataque e eliminar o Hamas, o que está ocorrendo de forma violenta e ininterrupta, e, após a morte de inúmeros palestinos e terroristas, fizeram uma pequena trégua para a troca de reféns de Israel e terroristas presos palestinos, sendo que a guerra persiste até a data de hoje.

Para que houvesse uma paz duradoura entre Israel e Palestina, o primeiro precisaria apoiar um estado soberano para os palestinos, que incluísse o Hamas, cessão do bloqueio de Gaza e as restrições de movimento na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.

Da outra parte, os grupos palestinos deveriam renunciar à violência e reconhecer o Estado de Israel. Ou seja, praticamente impossível.

O Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, deu uma declaração nos seguintes termos:

“Se os árabes depusessem hoje as suas armas, não haveria mais violência. Se os judeus depusessem hoje as suas armas, não haveria mais Israel“.

A análise do conflito cabe a cada um.

Aproveito a oportunidade para desejar a todos os nossos associados um Feliz Natal e Próspero 2024 com muita paz e, principalmente, saúde.